domingo, 23 de agosto de 2020

Fonte - Sobreiro do Rodeio

Agosto de 2020

Infelizmente a Fonte do Sobreiro do Rodeio foi deixada em estado de abandono, após o corte de vários pinheiros bravos. 




Pareceu-me algo inapropriado para uma fonte que nos matou a sede por tantas ocasiões...

... assim, mãos à obra!

 

 
Passados largos minutos conseguiu-se alcançar a parede xistosa que deixava a descoberto a fenda que permitia o jorrar do precioso líquido.
 
 
Mas a tarefa ainda não estava terminada...
 
... seria necessário colocar algo mais, assim como proteger a zona de recolha.



 
Tarefa terminada, temos água!
 
 
Observação final: falta um recipiente de recolha, infelizmente não tinha nenhum à mão!
 

quarta-feira, 5 de agosto de 2020

Século XIV – Rendas de Sarzedas


1381

O Rei D. Fernando I (Portugal) atribui as rendas devidas pelos habitantes das terras do território de Sarzedas a Garcia Tenreiro, Alcaide-mor da vila de Monforte; filho de Diogo Lopes Tenreiro, Alcaide-mor da Corunha (Espanha).


In: CADERNOS BARÃO DE ARÊDE - Centro de Estudos de Genealogia e Heráldica Barão de Arêde Coelho - Revista trimestral de edição digital, n.º 6 – Outubro-Dezembro 2015 (Ano II)

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A Revolta dos Gabões [5]


 Uma versão da história, retirada da página Dos Enxidros (Série II)

 “Gente e histórias da nossa terra“

“Joaquim Rodrigues Marques”

 23 de janeiro de 2020

 “(...) Contava também uma, passada com ele, que nunca mais tinha esquecido. Era uma manhã fria e enevoada de janeiro, a Vila quase deserta, que em tempo de azeitona só ficavam em casa sapateiros, alfaiates, ferreiros e pouco mais que algum porte tivesse. Calhou também ele estar de cama por causa duns febrões de três dias. De manhã bem fez por se pôr de pé, quando ouviu o búzio a chamar, mas nem acolheu as pernas fora da cama.

Naquele tempo morava numa casa na rua Nicolau Veloso, mesmo na esquina com a Manuel Mendes, e, quando foi a meio da manhã, começou a ouvir um serrabulho que parecia o fim do mundo. Veio-lhe logo à ideia uma história que o avô contava, que a ouvira já do avô dele, quando uma corja de castelhanos entrou Vila adentro, roubou tudo o que havia para roubar, matou e prendeu quem quis e, ao fim, atearam fogo ao que não puderam levar. Muitas casas ficaram reduzidas a cinzas, até a Casa da Câmara. Inteira, só escapou a Igreja da Misericórdia, mesmo ali ao lado. «Milagre do Senhor Santo Cristo!» - clamava o povo, e dizem que foi a partir daí que começaram a fazer-Lhe a festa, todos os anos, no mês de setembro (ou terá sido por causa da nuvem de gafanhotos que desceu sobre o renovo e, não fossem as preces ao Santo Cristo, tinha deitado a perder toda a colheita desse ano?).

Não era homem de ter medo, o tio Joaquim, mas foi com alguma cautela, e a muito custo, que saiu da cama e foi assomar ao postigo: até metia medo, tal era o mar de gente a correr rua abaixo, tudo com paus, forquilhas, foições e machadas no ar, aos gritos: «Fujam que vem aí a tropa!» Quando se meteu para dentro encarou com um desconhecido, mesmo ao lado dele. Era um velho, pr’aí a meio entre os sessenta e os setenta, de pernas bambas amparadas a um pau, enfiado num gabão que o cobria da cabeça aos pés. Arfava que até parecia que lhe saltavam os bofes p’la boca. A porta estava sempre no trinco e, com a algazarra, nem tinha dado conta d’ele entrar.

- O qu’é que vosmecê quer?

- Deixe-me aqui descansar um bocado, que nem me tenho nas pernas.

O tio Joaquim, ainda mal afeito aos acontecimentos, nem sabia o que dizer, mas lá se resolveu. Apontou-lhe o mocho com o queixo «assente-se aí», e enfiou-se a ele debaixo do fato, que já estava a bater o dente.

Mais calmo, o velho pôs-se a contar: Era de Almaceda, e para aqueles lados da serra andava o povo preado por causa da cobrança das contribuições, aumentadas para mais do dobro. Nas tabernas e à saída da missa (o padre sempre a louvar a ordem e a obediência ao rei e às outras autoridades), não se falava noutra coisa. Era demais, desta vez! Ainda por cima gostavam de saber para onde é que ia o dinheiro de tanto imposto, que para proveito do povo não era: só se lembravam deles quando era para cobrar. Era mas é para encher o bandulho dos que não faziam nada, mas viviam à tripa forra - o rei, lá por Lisboa, e os condes e viscondes, por cá.

Como é que se faz, como é que deixa de se fazer… Cada cabeça sua sentença. Diziam uns que não se pagava, e pronto; que fossem lá os ladrões da Vila, que haviam de levar que contar. Diziam outros, a maioria, que não bastava; tinha era que se armar uma revolta e cortar o mal pela raiz. Ao fim, concordaram todos que o remédio só podia ser um: «Vai o povo até à Vila, toma-se a Câmara de assalto e queima-se a papelada toda. E ai de quem se meta à frente! Depois muda-se a gente para Castelo Branco, se for preciso, que mais mal servidos não hemos de ficar.» Assentaram o dia e passaram a palavra às terras todas das redondezas.

De madrugada, mal passava da meia-noite, Almaceda começou a encher-se de gente vinda de toda a freguesia, e marcharam por aí arriba, com as armas que tinham à mão. Quando chegaram aos Pereiros já lá estavam à espera os da Partida, do Violeiro, do Mourelo, do Tripeiro e da Paradanta. Para cima de mil homens, novos e velhos. À frente ia o Almeida Afonso, um ricalhaço de Valbom que era quem dava as ordens. À entrada da Vila começaram a rufar tambores e tudo a bradar «Morte aos ladrões! Abaixo as contribuições!» Assim que chegaram à Praça, uns, mais valentes, meteram ombros à porta da Câmara e deitaram-na abaixo. Depois foram-se à papelada, atiraram com tudo cá para fora e chegaram-lhe lume. Uma fogueira que só visto! Dabanão, começou-se a ouvir o búzio e alguém aos gritos, que vinha lá a tropa, e pôs-se tudo a correr, rua abaixo. Ninguém queria ser apanhado e metido na enxovia, que ainda havia a azeitona para acabar de colher.

- E vosmecê, c’a idade que tem, com’é que se meteu num trabalho destes?

- Inté parecia mal fequer na cama. Já estou velho, mas não sou intrevado e inda sou homem com’ós outros. Nem que fosse a últema coisa que fezesse na vida, tinha que vir. Os de cá da Vila chamam-nos charnecos, como se fossem mais que a gente, mas tomaram muitos! Em brio e união, ninguém nos chega aos calcanhares. Quando os sinos tocam a rebate, seja pró que for, acode o povo todo, novo e velho; não é com’em muito lado, cada um por si… Bom, e agora vou andando, que, não tarda, é noite.

 - Beba um copito d’aguardente. Tem ali a garrafa ao despor, não se acanhe. Olhe qu’é da boa!

Meteu a garrafa à boca, bebeu um golo e ao fim até estalou os beiços.

- Ó diabo, esta aquece!

- Beba mai um golo.

- Bem-haja, mas vou-me indo. Até outro dia! E perdoe lá aquelas palavras d’ há pouco. A gente sabe qu’em todo o lado há bom e há mau, que, ao fim e ao cabo, somos todos do mesmo sangue…

- Vá com Deus!

 (...)"

 

A notícia original pode ser consultada em: https://dosenxidros.blogspot.com/2020/01/gente-e-historias-da-nossa-terra.html

 

A etimologia de Almaceda — POR J. DIOGO CORREIA

in: CORREIA, J. Diogo (1962). A etimologia de Almaceda. Estudos de Castelo Branco n.º 4, 1 de abril de 1962, pp. 69-72   Não há campo m...