quarta-feira, 15 de julho de 2020

A Revolta dos Gabões [4]

Outra versão da história, retirada da página do Facebook de Tinalhas e sua Gente

“A REVOLTA DOS GABÕES”
Editada no “MENSAGEIRO DE ALMACEDA” em 23 de Fevereiro de 1961

“O escrivão de Fazenda do concelho de S. Vicente da Beira, recebera ordem para fazer a cobrança da contribuição predial pelas novas matrizes. O povo de Almaceda, cujo cultivo da leira que mal lhe dava para a côdea de cada dia, sentiu revolta mal contida:
- Não paga ninguém, acabou-se a justiça que venha para cá que há-de levar que contar. Almeida Afonso, de Valbom, o mais abastado proprietário da charneca, aconselhava:
- Nada disso, com os homens da justiça lá do campo não queremos pegas. O remédio tem de ser outro. Agora, bico calado, pois se os de S. Vicente desconfiam, pilham-nos na ratoeira mandando vir tropa de Castelo Branco.
Em 23 de Janeiro de 1893, Almeida Afonso, às duas da manhã, ouviu os primeiros sons do búzio. Almaceda chegava em reboliço. Numa algazarra medonha, começou a movimentar-se em longa bicha pelos atalhos a caminho dos Pereiros, ponto marcado: os de Almaceda, do Violeiro, Tripeiro, Mourelo, Partida e Paradanta. Era uma massa enorme de gente, de gabão vestido, mais de mil, armados de varapaus, roçadoiras, forquilhas e machados.
- Agora, todos calados até S. Vicente.
A Câmara foi assaltada e o fogo devorador consumiu a papelada da Repartição da Fazenda. Chegara o tumulto ao seu auge. O Padre José de Matos teve a ideia de gritar:
- Rapazes, fujam que ai vem a tropa …
O pânico apoderou-se da turba e cada um desmandou em correria louca para fora da vila. O administrador do Concelho mandou lavrar auto da ocorrência. A notícia correu veloz por toda a serra. Veio a tropa e no primeiro dia só encontrou uma dúzia de homens velhos. Nos dias seguintes foram caçados mais uns tantos e saíram de S. Vicente com destino a Castelo Branco, entre baionetas. O Almeida Afonso, quando os militares lhe cercaram a casa, nem sequer perguntou para onde o levaram. Os de S. Vicente, apertados pelos caciques que não queriam perder a amizade do Almeida Afonso, viziam não saberem ao certo quem tinha apichado o fogo. E o processo foi arquivado por falta de provas. Almeida Afonso arrebanhou toda a gente e foi ao Governador Civil a pedir a desanexação de Almaceda do concelho de S. Vicente. Despovoou-se a gente da cidade para o castelo para ver ao longe a marcha dos charnecos. O exemplo pegou. Estava morto o município de S. Vicente. O Ministro Bintzi Branco publicou o decreto de extinção.”


Sem comentários:

abril 2024